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O Olhar de Mil Jardas, a Materialidade do Trauma.


O Olhar de Mil Jardas é uma expressão usada para definir o olhar de quem já viu demais. Já viveu demais.
Uma alma em sofrimento. Você já viu esse olhar? 

O que se sabe é que os combatentes de guerra são o maior exemplo conhecido de como o cérebro humano encara tragédias. Memórias não podem ser apagadas, a não ser que se adoeca, o que pode ocorrer, também devido ao trauma,  que o cérebro acredite ser melhor apagar a memória o que não é bom, geralmente apaga junto Memórias que não se quer apagar trazendo prejuízo.

Claramente explicando, essa ação involuntária de perder se de si mesmo é uma das inúmeras e tristes consequências de um trauma. Mais especificamente do que se viu com os próprios olhos. Num momento você está aqui, no momento seguinte não está mais. Você está presente, porém só em corpo. 

Porquê isso acontece?

Às vezes a memória do trauma que não foi ressignificada volta, como um apagão, levando você de volta à cena. Se algo foi tão marcante que você não consegue esquecer e se não tratou corretamente com terapia, voltando ao momento e fazendo a dessensibilizacao do trauma, voltará à consciência sempre, trazendo prejuízos ao sujeito. 

Encare o cérebro como uma máquina. A memória enche e os traumas são os vírus. Se você não limpar, ele buga/falha. A terapia é a manutenção tanto da mente, como do cérebro. 

Quanta sujeira vemos? Quanta sujeira já ouvimos?
Como mantemos nossa memória limpa?

Inevitável que ao longo da vida nos deparamos com tragédias, frustrações, rejeições, fatos ruins marcantes.

Os olhos são a janela da alma. E o quanto a alma dessas pessoas que já viram de tudo está apavorada?

As mudanças físicas resultantes são visíveis.

 Antes era uma pessoa, agora é outra.

 O que ocorre é que não é possível sobreviver à tudo, sem efeitos colaterais. As pessoas não são robôs. Há um determinado nível de dor que se pode suportar. Alguns suportam mais, outros menos a depender da fragilidade da persona. 

A fuga da realidade é uma compensação do cérebro à realidade apresentada. Proteção. Mas entre a fuga momentânea e a eterna o que nos segura lúcidos? O que pode nos trazer de volta à consciência e o que pode nos levar para o outro lado da cisão? 

É importante pensar que devemos cuidar dos nossos pensamentos. E não deixar que eles nos guiem. Devemos nos doutrinar para não entrar em desespero até mesmo diante da situação mais trágica, para que assim o cérebro não passe a crer que precisa proteger você de si mesmo trazendo prejuízos irreparáveis.

Uma técnica bastante eficaz é chamar-se de volta.
Exatamente. Fale em voz alta consigo mesmo, chamando-se de volta à realidade. Não deixe-se divagar ao ponto de perder-se. Conversar com você mesmo em alta voz, corrigindo conscientemente pensamentos incoerentes.

Não deixe sua mente guiar você. Sua mente pode estar momentâneamente doente, então ela te guiará erroneamente. Faça com que sua consciência original se sobressaia. Você sabe o que fazer. Ainda que esteja numa situação terrível e desesperadora, ainda se pode voltar. Recobrar os sentidos. 

Para as almas que fizeram a cisão e perderam-se em sí mesmas talvez não haja mais volta, mas para aquelas que ainda ouvem a razão, mantenham a calma, acreditem, voltem. Há uma solução enquanto há consciência.

Fiquem firmes. Sejam fortes e corajosos.
Não cedam à pensamentos e sentimentos que não são seus. Mantenham a fé. Vocês podem sobreviver até à mais profunda rachadura da sua estrutura. 

Acredite em mim, você pode. 
 



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