Em um mundo totalmente pautado na imagem, no que é apreciável aos olhos, no externo e no visível sabemos que tudo quanto seja diferente, fora do padrão, fora do senso comum, é considerado reprovável, incorreto e inaceitável.
Mas o que dita o que é aceitável e correto do que é inaceitável e incorreto?
Segundo os preceitos da sociedade, tudo o que é diferente do usual pela grande maioria, é rejeitado. Daí vem o preconceito desde o início da história, dos primeiros relatos de pessoas com comportamentos estranhos, contra as pessoas que possuem tais diferenças. É visível o quão grande é a problemática em torno deste assunto. Veremos portanto, na linha do tempo a evolução no termo loucura que hoje compreendemos como um conjunto de sintomas relacionados a doenças mentais que levam um ser humano comum a ser considerado indigno por muitos, a um tratamento igualitário:
Grécia Antiga
Loucos eram conhecidos como um meio de comunicação entre os homens e os deuses.
Idade Média
Aqui, eram considerados possuídos por demônios e sentenciados a morte. O que antes era considerado um dom, agora se torna castigo.
Renascimento
O Período do Renascimento foi dividido em duas partes:
• Primeira Parte
A exaltação do insano principalmente na arte, a loucura reconhecida como expressão das forças da natureza.
• Segunda Parte
Já neste período, torna-se o reverso da razão e ganha caráter moral, considerada como um conjunto de vícios e passando a ser usado como adjetivo desqualificador.
Século XVII
No contexto da Revolução Industrial pessoas consideradas não produtivas passam a ser internados em hospitais para isolamento do convívio social , passando a ser obrigados a fazer trabalhos forçados como se fosse pena para um crime.
Século VXIII / XIX
Finalmente reconhecida como doença psicológica, os pacientes eram vigiados e punidos como tentativa de controle.
Século XX
Tratamentos com métodos controversos.
• Eletrochoques
• Coma induzido
• Afogamento
• Surras
• Imobilização
• Banhos Gelados
• Sustos
Neste período também deu-se o descobrimento de procedimento invasivo chamado de Lobotomia, que consistia abrir a cabeça do paciente e retirar o lóbulo frontal, responsável pelas emoções, tornando o um zumbi. Aqui também inicia-se a descoberta e uso dos sedativos.
Após a Segunda Guerra Mundial
• Inicia-se a era dos tratamentos farmacológicos e o uso de remédios antipsicóticos.
Décadas de 60 a 80
• Período marcado pela Luta Antimanicomial que visava acabar com os hospitais psiquiátricos.
Principais Discussões de Hoje:
• Criação do DSM5
O Manual dos Transtornos Mentais ajudado os profissionais a determinar o tratamento para cada doença, ao passo que em cada revisão parece destrinchar ainda mais cada diagnóstico, quase que banalizando a finalidade do manual. Não é possível decorar cada ramificação de transtorno que há ali. E a banalização está em transformar cada sentimento humano em sintoma de doença e isso não é real. Nem tudo é doença.
• Aperfeiçoamento do mapeamento genético e mental
Tem intuito de entender e tratar a loucura no campo da ciência. Com isso, já é possível saber se dois pais são geneticamente saudáveis e caso haja a possibilidade de nascer uma criança não saudável, se querem assumir a responsabilidade de criar uma criança com transtorno.
• Internações Compulsórias
Um tema amplo e bastante polêmico pois ao mesmo tempo que tira a liberdade de escolha ou o livre arbítrio do indivíduo também protege ele de si mesmo e dos outros em momentos de crise.
• Hospitais Especializados
No Brasil essa é uma necessidade real. A criação de maior quantidade de locais com a ajuda correta para tratamento de doenças mentais graves, as quais impedem o paciente de convívio social mesmo sendo urgente e necessária não parece ser prioridade para as autoridades. Geralmente os locais gratuitos são de difícil acesso, sendo necessário esperar muito pelo SUS e não podendo ser por um período maior que seis meses de estadia. São usados meios como camisa de força e eletrochoques ainda para conter os pacientes e não há muitos cuidados com eles. Já pelo meio particular são cobrados valores impossíveis de ser pagos pela maioria dos brasileiros.
• Excesso de Diagnósticos
Ao estudar o DSM5 percebemos um grande aumento na ramificação dos transtornos. Muitos comportamentos comuns a todos nós hoje é considerado sintoma, como por exemplo a TPM, o luto que é um sofrimento comum a toda a pessoa que perde um ente querido, a melancolia inerente a algumas personalidades, alguns são naturalmente melancólicos tristes e isso também está no manual como transtorno. Ou seja, a problemática está em tornar tudo sintoma de doença sem avaliar profundamente e medicar tão facilmente.
• Dependência de Psicofármacos
O fácil acesso à calmantes e ansiolíticos só cresce e a popularização dos termos como se tudo fosse transtorno sem contexto quem ganha com a venda desenfreada de medicamentos a indústria farmacêutica paciente não incluir sintomas temporariamente mas também causar Dependência e mascarar a raiz do problema que em geral está na infância.
• Excesso de Cursos Profissionalizantes
Os cursos e faculdades só aumentam pessoas teoricamente preparadas para cuidar da mente e da alma de um ser humano. Será? Será que somente lendo livros, apostilas, vendo aulas, temos o verdadeiro preparo para mexer em traumas profundos recalcados Âmago da alma , sentimentos, emoções que levam as pessoas a loucura e a morte?
O que seria necessário para fazer um bom profissional da mente?
Com certeza somente a teoria não é o suficiente. O que mais vemos na internet pessoas tão jovens dando conselhos, sem vivência alguma. Chamados de terapeutas, psicólogos, popularizando diagnósticos, falando sem compromisso sobre outras pessoas, diagnosticando outros com base em conhecimento raso, somente avaliando vídeos. É e necessário saber que a mente e a alma de um ser humano não é um parque de diversões. Lidar com esse tema é uma tarefa de muita responsabilidade e com certeza não é para qualquer um.
São necessários anos de estudo e muita prática para um profissional ser habilitado a acessar as mais profundas camadas do ser.
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Por, Luciele Leal.
Psicanalista Clínica
Pós Graduada em Psicopatologias
Mestranda em Psicanálise
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