A maturidade traz consigo a magia da autoaceitação.
Se conhecer, saber do que se gosta e se precisa é talvez a chave para uma vida melhor. Precisamos falar da importância de aceitar até mesmo a parte escura do nosso ser.
" Até cortar os próprios defeitos pode ser perigoso. Nunca se sabe qual é o defeito que sustenta nosso edifício inteiro."
Clarice Lispector.
O que Clarice quis dizer é que, não se deve buscar aperfeiçoar-se ao ponto de excluir, por vezes, características da sua personalidade. Uma quantia adequada de defeitos pode se fazer necessária para sustentar todo um conjunto da obra.
Veja, não se pode curar-se demais, ser lúcido demais, racional demais, bom demais, perfeito demais.
Não existe perfeição tal. E quem se faz aparentar perfeito, é quem geralmente esconde o interior mais doente possível. Todos somos ruins em alguma instância. Ainda que não se admita. Todos somos o lobo mal na história de alguém. Fato é que, é preciso viver o suficiente pra aceitar e aprender amar suas imperfeições, falhas, pode ser o defeito que segura toda torre.
Essa frase de Clarice me remete à famosa Torre de Pisa
(...que, muito embora fosse destinada a ficar na vertical, a torre começou a inclinar-se para sudeste logo após o início da construção, em 1173, devido a uma fundação mal construída e a um solo de fundação mal consolidado, que permitiu à fundação ficar com assentamentos diferenciais. A torre atualmente se inclina para o sudoeste. Ela começou a inclinar-se após a progressão de construção para o terceiro andar em 1178. Isto deveu-se a uma fundação de meros três metros sobre um subsolo fraco e instável, um projecto que falhou desde o início. A construção foi posteriormente paralisada por quase um século, porque o Pisanos estavam continuamente envolvidos em batalhas com Génova, Lucca e Florença. Este tempo permitiu ao solo subjacente ajustar-se. Caso contrário, a torre de Pisa quase certamente teria sido derrubada...)
Se você foi gerado num solo infértil ou instável, sob uma superfície desajustada, certamente terá uma estrutura possivelmente torta. Mas, com o tempo o solo se modifica, e sua estrutura se ajusta ao ponto de tornar-se forte e bonita o suficiente para não precisar mais ser destruída. De todo modo, haverá eternas diferenças visíveis entre a sua "estrutura" e das demais, mas acredite, será exatamente essa diferença que fará de você uma referência e um monumento admirado e respeitado por conseguir, apesar dos defeitos, continuar em pé.
O amor próprio é uma construção diária e demorada, onde o sujeito vê se como o único agente de mudança possível no enredo de sua própria história. E isso tira o peso de que somente um outro alguém possa nos fazer feliz, pelo contrário, apenas você mesmo pode se fazer feliz. E nem todos os dias serão bons, nem todo dia você conseguirá. Mas em todos os dias você deve se amar.
Amar nossos defeitos é um grande desafio. Ninguém gosta da sua parte ruim. Mas, você passa a compreender porquê aquilo está ali e respeitar aquele defeito como um agente importante na sua solidez.
Indivíduos não precisam ser iguais. Só precisam ser amados em todas as suas instâncias, inclusive nas menos bonitas.
Ter uma personalidade forte não é bem visto na sociedade, até que se olhe por dentro. E veja que talvez, a única maneira que o sujeito teve de se defender e continuar vivo, tenha sido impondo respeito,ou até mesmo medo nos outros. É bonito? Não. Mas em certas ocasiões, faz se necessário. Já se perguntou qual é o motivo por trás do defeito de alguém?
"Quem ama o cacto, deve entender seus espinhos."
A Histeria nas mulheres, em suma, é um mal que Freud detectou por abuso infantil. As mesmas mulheres que eram internadas, excluídas, chamadas de bruxas e queimadas em fogueiras, eram as mesmas meninas que haviam sofrido traumas inimagináveis.
Quando nos pegamos julgando alguém, principalmente uma mulher, que fala alto, gargalha, grita, briga, se mostra, ignoramos os agentes causais dessa suposta insanidade. Ignoramos a menina que não foi acolhida.
Saber-se que por trás de todo defeito, há alguém em sofrimento talvez nos humanize um pouco.
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